«As farmácias preparam-se para administrar as vacinas COVID, o que demonstra que estes profissionais têm que estar preparados constantemente para as mudanças de paradigma»
Quem o diz é Cristiano Matos, coordenador da licenciatura em Farmácia da Atlântica. Na entrevista que se segue aborda os desafios atuais da profissão. Da Inteligência Artificial à automação dos vários sistemas.
Este período pós-pandemia tem sido um tempo estimulante para a área da Farmácia?
Quer o período da pandemia, quer o pós-pandemia trouxeram desafios significativos, mas também algumas oportunidades para a área da Farmácia. A pandemia de COVID-19 destacou a importância dos profissionais de farmácia na linha de frente dos cuidados de saúde, com um papel essencial na distribuição de medicamentos, aconselhamento aos doentes e promoção da saúde pública.
Este facto trouxe uma maior visibilidade e reconhecimento aos profissionais de Farmácia, especialmente aos que trabalham em Farmácias Comunitárias e que foram o primeiro ponto de contacto entre a população e os cuidados de saúde, quando os restantes serviços de saúde, quer públicos quer privados, estavam colapsados pela demanda da população. As farmácias nunca fecharam e continuaram a atender os seus clientes, mas criaram outros serviços, como os testes rápidos de COVID-19, um aumento exponencial ou a implementação de entregas ao domicílio, o tele-aconselhamento, ou a dispensa de medicamentos hospitalares na rede de farmácias nacional. Agora as farmácias preparam-se para administrar as vacinas COVID, o que demonstra que estes profissionais têm que estar preparados constantemente para as mudanças de paradigma e para os desafios que lhes são impostos, estimulando uma maior valorização e investimento na área da Farmácia.
Quais são os principais desafios atuais de trabalhar e estudar Farmácia?
Os principais desafios incluem a necessidade destes profissionais se manterem atualizados face às constantes inovações na área farmacêutica, a crescente complexidade dos tratamentos e a necessidade de um aconselhamento e gestão farmacoterapêutica de casos de saúde cada vez mais diversos. Além disso, o equilíbrio entre o aconselhamento e a dispensa de medicamentos ao paciente e as responsabilidades administrativas e de gestão que as farmácias apresentam atualmente, quer comunitárias quer hospitalares, fazem com que estes profissionais tenham que ser preparados em valências distintas, não exclusivas da área da farmácia, mas também da organização e gestão, que lhes permita dar resposta aos desafios do mercado de trabalho.
Os desafios são múltiplos: desde garantir o fornecimento contínuo de medicamentos essenciais aos doentes que muitas vezes não estão disponíveis, a gestão de custos ou a constante necessidade de integração de tecnologia, são desafios sentidos por estes profissionais, e onde a Universidade Atlântica procura ter uma resposta formativa de excelência que permita preparar os nossos alunos para o mercado de trabalho em constante evolução.
Como é que a tecnologia está a impactar a prática farmacêutica e a gestão de medicamentos?
A tecnologia tem desempenhado um papel fundamental na transformação da prática das profissões e na gestão de medicamentos. Passou uma década desde que os utentes começaram a ter acesso aos medicamentos através de receitas eletrónicas e as farmácias tiveram que se adaptar a esta realidade. Atualmente a grande maioria das prescrições são eletrónicas, o que permitiu reduzir muitos erros de dispensa e deixar aos profissionais mais tempo disponível para o aconselhamento e para a atenção ao doente. Por outro lado, os sistemas de informação que são usados para a gestão dos stocks de medicamentos, garantem às farmácias (ou serviços farmacêuticos) uma gestão eficiente de stocks, minimizando as ruturas e aumentando a disponibilidade atempada de medicamentos.
A automação, com a utilização de dispensadores automáticos também está cada vez mais presente, o que permite a agilizar o processo de dispensa, mas também aumentando a capacidade das farmácias em poder servir os seus doentes. Os sistemas automatizados de distribuição de medicamentos em âmbito hospitalar são também uma realidade cada vez mais implementada, o que permite um armazenamento seguro de medicamentos nas unidades hospitalares, com uma segurança aumentada, por exemplo através do rastreamento e controlo dos medicamentos utilizados.
Quais são as principais tendências na pesquisa farmacêutica, atualmente?
Atualmente as principais tendências de pesquisa incluem a procura por terapias personalizadas, onde os tratamentos são adaptados às características dos pacientes, aumentando a eficácia e reduzindo os efeitos secundários dos mesmos. A pesquisa de terapias biológicas tem tido avanços rápidos, e cada vez mais frequentes, o que permite que algumas doenças consideradas incuráveis comecem a ter alguns avanços na sua terapêutica. A utilização da inteligência artificial na descoberta de novos medicamentos irá permitir acelerar o processo de descoberta e desenvolvimento de produtos. No período pós-pandemia, existe também um foco renovado na prevenção e tratamento de doenças infeciosas, e por isso espera-se que o desenvolvimento de fármacos nesta área de atuação seja uma tendência nos próximos anos.
Como olha para a proximidade das farmácias à população?
As farmácias são uma porta importante de entrada da população no sistema de saúde. A farmácia desempenha um papel importante na promoção da saúde e na prestação de cuidados acessíveis e de proximidade, e são frequentemente a primeira linha de contacto para os doentes, que veem na farmácia uma alternativa à marcação da consulta médica, e onde podem ter acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Os profissionais desempenham um papel vital na educação sobre medicamentos, prevenção de doenças e promoção de estilos de vida saudáveis. Além disso, a disponibilidade de serviços às comunidades rurais e áreas remotas ajuda a garantir que todos tenham acesso a cuidados de saúde, uma vez que muitas vezes a farmácia é o único ponto de contacto com o sistema de saúde. A proximidade das farmácias à população é uma parte essencial do sistema de saúde e uma maneira eficaz de melhorar a saúde da comunidade.
Qual é a visão geral da licenciatura de Farmácia da Atlântica?
O plano de estudos da Licenciatura de Farmácia da Atlântica foi criado a pensar no contexto atual do setor da farmácia, e com os olhos postos nos desafios futuros. Considera-se um plano de estudos inovador, com uma forte componente prática e focado em preparar os estudantes de forma eficaz e com elevada qualidade. O currículo do curso pretende formar profissionais para as áreas core da profissão, nomeadamente a Farmácia Comunitária e a Farmácia Hospitalar, mas permite aos alunos desenvolverem skills para que possam abranger outras áreas, algumas delas completamente novas.
O Licenciado em Farmácia poderá intervir na conceção, planeamento, organização, aplicação, avaliação e validação de todas as fases do circuito do medicamento dos produtos de saúde e dos meios de diagnóstico, assegurando a sua utilização racional, qualidade e segurança, num espaço de intervenção próprio e autónomo, orientado para a promoção da saúde e para a prevenção e proteção da doença.
Podem destacar-se como saídas profissionais as farmácias comunitárias, farmácias hospitalares, os locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, as farmácias militares, as farmácias prisionais, os lares / cuidados continuados, os cuidados de saúde primários (Centros de Saúde), a indústria farmacêutica, dermocosmética e de dispositivos médicos, a radiofarmácia, os ensaios clínicos, os assuntos regulamentares, a farmacovigilância, a informação médica, a distribuição e logística e ainda as instituições de ensino e investigação.
Como é feita a articulação com o mercado de trabalho?
A articulação com o mercado de trabalho é um aspeto fundamental desta licenciatura e à qual foi dada uma especial atenção. Trabalhamos em estreita colaboração com o mercado a nível regional, nacional e internacional através de protocolos com Farmácias, Hospitais, Indústria Farmacêutica, e protocolos de colaboração internacional, para garantir que os nossos alunos possam ter contacto com o mercado de trabalho, ainda em ambiente académico.
O último ano letivo desta licenciatura é exclusivamente em contexto real de trabalho, através de Estágios Curriculares, o que permite aos alunos experienciarem diferentes realidades, mas também terem um primeiro contacto com o mercado de trabalho. Estabelecemos parcerias para oferecer estágios e oportunidades de colocação profissional aos nossos estudantes, permitindo-lhes ganhar experiência prática. Além disso, ao longo da formação, os alunos terão contacto com profissionais experientes em palestras e workshops, proporcionando aos estudantes insights valiosos sobre a prática profissional. Acreditamos que essa articulação com o mercado de trabalho é essencial para preparar os nossos estudantes para um futuro de sucesso na área da Farmácia.